domingo, 5 de abril de 2009

O TRISTE FIM DE JOÃO CACHAÇA

No derradeiro dia ao passar
Por uma grande avenida
Avistaram João Cachaça num bar
Bebendo uma cana “ATREVIDA”
Querendo somente brigar
Como uma despedida.

Invadindo o salão de festa
João Cachaça falou
De sua vida pregressa
E ele até se alterou
Quando alguém disse ta com pressa?
E ele respondeu será você um pastor?

Quando a Morte em fim me levar
Quero estar na frente dum balcão
Quero ser velado num bar
E não me deixem no chão
Porque um dia eu posso voltar
E perturba até o cão.

Mande fazer meu caixão
Com um modelo diferente
Em forma de um garrafão
Com rótulo de aguardente
Que pra ficar do agrado
De todo amigo da gente.

Desenhe um galeto assado
E um molho de pimenta
Escreva em cima e nos lados
“Quem não bebe se ausenta”
Que é pra nega lembrar dos agrados
Do bebo que lhe enfrenta.

Também não deixem rezar
Nem botar vela, flor ou rosário
Não bote perto de mim que dar azar
Bote uma dose de cana brejeira
Com direito ao tira-gosto
Carne seca, jabá e cachaça para toda a cabroeira.

Quando o cortejo seguir
Pare um pouquinho na praça
Pro bem da minha virtude
Cante o hino da cachaça:

“Aguardente Imaculada,
Milagrosa, Aguçada, Rainha e Triunfo
Santa do Brejo, Divina e Pura
Perdoe esse inveterado
Que agora vai ser jogado
“No escuro da sepultura”.

Ainda existe um mistério
Não gosto de campo santo
Acho triste o cemitério
Me leve pra outro canto
Quando vier pela rua
Não quero ver nenhum pranto.

E se for pro cemitério
Chame o coveiro urgente
Pra guardar no meu jaz
Uma grade de aguardente
Pague o quanto ele cobrar
Pra cumprir a obrigação:
E com boa cachaça
Ele guada o meu caixão.

Quero nessa ocasião
Todo mundo embriagado
Caindo com o caixão pelo chão
Cantando verso de gado
E depois que sepultar
Comer, beber e farra sem nem dizer obrigado.

Depois da festa encerrada
Deixar o túmulo composto
Com resto de tira-gosto
Copo e garrafa quebrada
Que é pra eu sentir o gosto
Duma farra adoidada.

Se para o céu eu subir
Pra com São Pedro falar
E pra mim a porta abrir
E me disser: - Pode entrar!
Eu digo: - Quero beber!
Se ele vier me dizer:
Não tem cachaça aqui dentro!
Volto no mesmo momento
E me eternizo no bar.

Autor: José Carlos Tibiriçá Pinheiro

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